05 setembro 2012

O Mensageiro

Leio o segundo capítulo de A Força do Mundo. Está estruturado como um diário, cobrindo dez anos de vida da autora, entre 1960 e 1970. Intitula-se O Mensageiro. Nele assinala-se a forma a visitação da alma por um ser transcendente, cuja evanescência progressivamente se clarifica a ponto de se desenhar como sendo o Anjo, «o grande Consolador», a Virgem Imaculada afinal o Espírito Santo, e sem sucessão ou distinção a Rosa Mística e com ela a evidência de uma geometria sagrada, simbólica, pela qual a primitiva «presença» se torna em «encontro» por entre o labirinto do saber revelado..
São aparições e com elas tudo ganha compreensão, o «perpétuo ultrapassar dos limites», o mundo «construído como uma rosa», em camadas sucessivas,vindo de um centro primordial, como uma força «com uma medida nova, não horizontal, mas vertical, em profundidade.»
O leitor sente, nestas linhas que têm de ser interiorizadas para que as conheça, o «júbilo secreto» com que se vive o divino nesta vida através da «alteridade», a de «um amor que se faz e se vive sobre uma falha aberta, um abismo». Tudo diverso do êxtase, que é tema do livro que albergou este capítulo, diferente porque se continuou «a viver no mesmo mundo; e no mesmo corpo de todos os dias, se bem que diferente. Pois que o corpo era possuído por essa força que ele sofria com a possessão docemente terrífica de Deus.»
Para estar neste mundo e conseguir estar com esta narrativa é preciso saber a decifração desta linguagem secreta, «esta linguagem às vezes de imagens, outras de palavras», crescendo «em espirais...em espirais sem fim», este «falar último em fusão, de alma a alma».